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Críticas

DIVERTIDA MENTE 2 – “Quando surgirem seus primeiros raios de mulher” | Crítica do Neófito

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Divertida Mente – filme de grande sucesso de público e crítica da Pixar, lançado em 2015 e antecessor de Divertida Mente 2, a estrear no dia 20 de junho nos cinemas nacionais – possuía uma premissa bastante ambiciosa: mostrar, do ponto de vista da neurociência, como a mente de uma menina pré-adolescente (na história, Riley Andersen, voz de Kensington Tallman e/ou Isabella Guarnieri, na dublagem) reagiria a uma situação de grandes mudanças involuntárias e estruturais na sua vida.

Mesmo simplificando conceitos neurocientíficos bastante complexos, a bela animação da Pixar mostrava alguns dos componentes mentais desta tese científica – Alegria, Tristeza, Medo, Nojo e Raiva – personificados como lindos personagens animados – e a mente como um vasto mundo, repleto de caminhos, construções, estruturas e departamentos – de forma clara e atrativa para todos os públicos e idades.

Ou seja, a Pixar acertava mais uma vez!

O filme era profundo em seu conteúdo, mas simples e lindo de se ver em termos formais.

Uma das coisas mais interessantes na abordagem adotada, é que os seres vivos pensantes (na animação, também os não-pensantes) não seriam dotados de “alma”, ou de núcleo central (“self”), mas o resultado de forças mentais. Trata-se, portanto, de uma visão materialista da vida, ao contrário de Soul (2020), por exemplo. Ainda assim, tudo foi tão bem concebido que poucos religiosos que assistiram a esta produção da Pixar perceberam tal concepção ou, em caso positivo, importaram-se com ela.

O fato é que a animação fez tremendo sucesso naquele ano (quase dez anos atrás!), permanecendo viva na memória afetiva de milhões de espectadores (quem, por exemplo, não se debulhou em lágrimas com o sacrifício de Bing Bong deve ser diagnosticado como psicopata ou algo semelhante!).

A palavra “Sucesso”, acima, significou, para a Disney – dona da Pixar desde 2006 – quase um bilhão de dólares de arrecadação, para um custo de 175 milhões. É claro que, com isso, uma continuação obrigatoriamente entraria nos planos do poderoso estúdio cinematográfico!

Mesmo com os quase dez anos de hiato, eis que surge Divertida Mente 2, que retoma a história de Riley, agora uma adolescente de 13 anos, prestes a entrar no high school e na peneira para integrar um time de hockey no gelo.

Foto: Divulgação (como nossa menina cresceu…)

O receio era que a continuação repetisse as mesmas fórmulas do longa de 2015, constituindo-se em apenas mais uma das produções caça-níqueis da Casa do Mickey. E, em termos de trama, é preciso dizer, logo de cara, que é isso mesmo: Divertida Mente 2 vai repetir – de maneira superlativa, claro! – o mesmo enredo: apresentar as emoções (antigas e novas) que compõem a mente humana (no caso, de Riley); o envio involuntário da protagonista Alegria (Amy Poehler, no original; Miá Mello – ótima! – na dublagem) da Central do cérebro para o interior do mundo mental; a “jornada do herói” da personagem principal, para retornar e retomar o controle do painel de comandos de Riley; a aceitação e integração das novas emoções.

Desta vez, porém, além da citada Alegria, Tristeza (Phyllis Smith, no original; Katiuscia Canoro, na dublagem); Medo (Tony Hale, no original; Otaviano Costa, na dublagem); Nojinho (Liza Lapira, no original; Dani Calabresa, na dublagem); e Raiva (Lewis Black, no original; Léo Jaime, na dublagem); surgem novas emoções, típicas da adolescência, tais como Ansiedade (Maya Hawke, no original; Tatá Werneck – brilhante! – na dublagem); Inveja (Ayo Edebiri, no original; Gaby Milani, na dublagem); Tédio (Adèle Exarchopoulos, no original; Eli Ferreira, na dublagem); e Vergonha (Paul Walter Hauser, no original; Fernando Mendonça, na dublagem).

Foto: Divulgação (“são tantas emoções”…)

Claro que as “novas” emoções entrarão em conflito com as “velhas” e, neste embate, Alegria, desta vez, não contará apenas com a Tristeza na sua caminhada de volta para o centro de mente de Riley.

A questão é que, apesar da repetição da fórmula, Divertida Mente 2 é muito bem-feito, retratando com extrema fidediginidade – principalmente para quem tem filha adolescente em casa – os conflitos que afetam uma moça de 13 anos, em sua busca por aceitação num mundo social permeado, atualmente, pela excessiva interação digital e pouco intersubjetiva, bem como os desafios e conflitos típicos da idade.

Falta, obviamente, coragem e licença para tratar de alguns temas muito caros para adolescentes do sexo feminino, como a menstruação, por exemplo; afinal, na mente norte-americana de todo sempre, vigora, ainda, a ideia de que animação deve ser direcionada para o público infanto-juvenil e, portanto, da forma mais assexuada possível (na visão de alguns cineastas, como Richard Linklater, por exemplo, toda a indústria cinematográfica hollywoodiana estaria obsessivamente focada em fazer filmes tão somente para esta faixa etária, abaixo dos 13 anos).

No entanto, tirando essa consideração do que se poderia ser visto no filme – face ao que de fato foi apresentado – aquilo que é levado em tela em Divertida Mente 2 apresenta o esperado acuro e cuidado – estético e estilístico – típicos da Pixar (à exceção, ainda, do execrável Carros 2).

Percebe-se que o filme demorou tanto a sair do papel justamente por seus realizadores terem buscado a melhor história possível para esta continuação, de modo a, apesar de estarem presos a uma fórmula já testada e bem-sucedida, conseguirem fazer algo quase tão original e impactante quanto o primeiro longa.

Passam-se uma hora e meia de pura diversão, deleite visual e até algumas reflexões bacanas. A mudança de direção (sai Pete Docter; entra Kelsey Mann) não afetou substancialmente a essência dos personagens. Os dramas de Riley – provocados graças à “autoconfusão” mental de que se vê alvo – são muito reais e possíveis de serem vividos por qualquer adolescente em circunstâncias parecidas as dela, justamente por envolverem temas universais, típicos desta idade e geração.

Foto: Divulgação (quem eu sou? pra onde vou? pra que que vou?…)

O aspecto técnico, como de praxe, é irretocável. Ao contrário do recente Kung-Fu Panda 4 – realizado com orçamento baixíssimo perto dos antecessores, afetando de forma clara a qualidade da animação – Divertida Mente 2 manteve seus belíssimos cenários e a atenção aos mínimos detalhes, como a textura da pele das emoções; as cores do mundo mental; a muito bem encaixada trilha sonora; a fotografia inspirada.

A versão dublada é incrível! Nada a dever – e até um pouco melhor – do que os áudios originais. Todas as vozes estão ótimas (com óbvia menção à Alegria de Miá Mello e à Tristeza de Katiuscia Canoro), mas, Tatá Werneck dá um verdadeiro show como Ansiedade, valendo, só por ela, o ingresso, de tão arrebatadora que é sua caracterização. Se a ansiedade tem uma voz, é indiscutível que seja a de de Tatá Werneck!

Foto: Divulgação (ansioso para ver a Ansiedade da ansiosa Tatá Werneck!)

Mas, apesar de todos seus méritos, Divertida Mente 2, ainda é uma continuação presa a uma fórmula de sucesso, de modo que, sua ação mais frenética e intensa, o bom espaço dado para desenvolvimento dos novos personagens e sua ótima mensagem subjacente, não conseguem superar a excelência do filme de 2015, o qual continua mais rico em termos de diversidade de ambientes, de exploração dos departamentos mentais e na retratação das emoções.

É um ótimo filme, que merece a entrada do cinema – com direito ao balde de pipoca! – porém, permanecerá à sombra de seu excepcional primeiro exemplar.

Abraços e até a próxima viagem nerd, passageiros Nerdtrip!!

Foto: Divulgação (“o tempo passa, o tempo voa”…)


Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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