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MATÉRIA ESCURA – E se…? | Crítica do Neófito

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Matéria Escura – série produzida pela Apple TV+, tendo sua primeira temporada exibida de maio a junho deste ano de 2024 – parece ser a mais nova tentativa da indústria audiovisual norte-americana de conseguir fazer sua própria Dark.

Foto: Divulgação (a obra-prima das produções sobre viagem no tempo)

Dark, veiculada pela Netflix, de 2017 a 2020, em três memoráveis temporadas, possuía uma trama que desenvolvia com seriedade as complicações oriundas da real possibilidade das viagens no tempo que, mesmo que realizadas por pessoas absolutamente comuns, numa localidade isolada do resto do mundo, teriam condições de comprometer o equilíbrio e segurança de todo planeta, usando, como base para tal discussão, a famosa tese do “Paradoxo do Avô” *.

* (esta tese “brinca” com o paradoxo insolúvel que seria gerado se alguém que odiasse seu avô despótico, por exemplo, descobrisse uma forma de voltar ao passado para matá-lo: se o avô morre antes de ter filhos, os pais do viajante do tempo não nasceriam, bem como o próprio viajante, de modo que ele nunca teria nascido e descoberto uma forma de voltar no tempo para matar o avô, criando um paradoxo temporal)

Matéria Escura se utiliza de uma tese bem mais complexa, que envolve a Mecânica Quântica, para basear sua premissa: o Gato de Schrödinger.

Erwin Schrödinger – físico austríaco ganhador do Nobel de Física em 1933 – discorreu sobre o paradoxo quântico da superposição, cuja ideia é tão complexa que nem vamos nos arriscar a tentar explicá-la aqui. Mas, em linhas gerais, o experimento mental defende uma circunstância na qual um gato, encerrado numa caixa hermeticamente fechada e submetido à exposição radioativa, estaria, simultaneamente, vivo ‘e’ morto.

Foto: arquivo digital internet (as teses malucas dos cientistas nada malucos)

Aliás, esta tese é literalmente apresentada no primeiro episódio da primeira temporada de Matéria Escura, por meio das explicações do personagem principal, o medíocre professor universitário de física Jason Dessen (Joel Edgerton), que inicialmente é mostrado como um homem pacato e amigável, algo frustrado profissional e financeiramente – já que era considerado uma promessa da ciência não realizada – mas muito feliz na vida pessoal, casado com sua amada Daniela (Jennifer Connelly) e pai do adolescente Charlie (Oakes Fegley).

Foto: Divulgação (“cara”, vivo uma história de amor; “coroa”, torno-me um sucesso corporativo)

Tudo ia bem na vida de Jason até que, numa determinada noite, ele é raptado por uma versão de si mesmo que, numa outra realidade (ou universo), ao contrário dele, havia optado pelo sucesso profissional e financeiro ao invés da vida familiar, mas, apesar da bem-sucedida carreira como cientista corporativo, sentia-se infeliz e incompleto, por não ter vivido seu grande amor da juventude com Daniela.

Esse novo “Jason 2.0”, na verdade, havia conseguido construir um artefato parecido com a caixa do Gato de Schrödinger e que, junto com a fórmula química desenvolvida por seu amigo Ryan (Jimmi Simpson), expandia a mente de forma a permitir acesso ao multiverso (olha ele aí de novo!), no qual cada decisão tomada pela pessoa que entrasse na caixa, criava ou abria (literalmente) a porta para uma realidade parecida ou completamente diferente daquela em que a pessoa vivia.

Foto: Divulgação (Coca-Cola ou Cuba-Libre? Essa decisão pode destruir um universo!)

Parece complicado? Bom, em termos teóricos é meio complicado sim. Visualmente, porém, na série, fica mais compreensível, afinal, o que importa mesmo é ver as várias variantes possíveis da realidade dos personagens e os infindáveis mundos que se abrem para eles. A complicação volta no final da temporada, quando várias versões de um certo personagem começam a surgir na mesma realidade.

Mas, como se trata de uma série norte-americana, tudo será didaticamente explicado.

A história, no entanto, centra-se na saga do Jason 1.0 (aquele que inicia a narrativa) para reencontrar sua realidade ou universo, já que o Jason 2.0 trocou de lugar com ele. Nesta jornada, Jason 1.0 contará com a ajuda de apenas uma única pessoa, a psicóloga Amanda (vivida com maestria por Alice Braga) – namorada do Jason 2.0 no universo deste – com quem explorará várias portas do multiverso.

E tudo isso que está sendo descrito não se trata de spoiler, pois, a grande parte é mostrada no trailer de Matéria Escura.

Foto: Divulgação (as “máscaras” que colocamos para desempenhar papeis na vida)

Em termos de desenvolvimento, a série começa muito bem e instigante, mas, a partir do terceiro e quarto episódios – dos nove que formam a primeira temporada – as coisas começam a ficar um pouco repetitivas, com as várias tentativas de Jason 1.0 e Amanda de encontrarem a realidade/universo dele. É legal ver as versões variadas da cidade de Chicago e dos próprios personagens, num belo trabalho de interpretação dos atores, no qual têm que viver a mesma pessoa, com diferenças às vezes drásticas e outras muito sutis.

Os dois episódios finais recuperam o fôlego da série, que termina bem e com ótimos ganchos para uma sequência.

Em termos técnicos, Matéria Escura sai-se muito bem, com uma excelente direção de arte, capaz de compor várias versões dos personagens, das casas, ruas e prédios de Chicago que, apesar de parecerem iguais, possuem de pequenas a singulares diferenças entre si.

Os efeitos especiais são competentes, com bastante uso de efeitos práticos; mas, mesmo quando se recorre ao CGI, a experiência é satisfatória. A edição é bastante cuidadosa, para que o espectador não se confunda com a realidade e o personagem que está vendo em tela (novamente, trata-se de uma série norte-americana).

Os atores, como dito acima, fazem um ótimo trabalho com as diversas versões do mesmo personagem. Connelly continua belíssima (apesar da quase incômoda magreza) e ótima atriz. Edgerton, o mais exigido, faz de seu Jason 1.0 um personagem angustiado, determinado, sofrido e essencialmente bom, ao mesmo tempo que insere frieza, cinismo e egoísmo no Jason 2.0.

Alice Braga, por sua vez, compõe sua Amanda de forma a se mostrar uma mulher inteligente, centrada, apaixonada e extremamente leal ao(s) Jason(s), com direito a uma cena de diálogo em português. Jimmi Simpson é o que mais se transforma fisicamente para cada versão do Ryan, mas também não destoa do restante do elenco.

Foto: Divulgação (aquela garota que, se eu tivesse convidado…)

Ainda poder-se-ia citar o personagem Leighton Vance (vividdo por Dayo Okeniyi), que é o bilionário que patrocina a construção da “caixa” do Jason 2.0; e a Blair Caplan (a cargo de Amanda Brugel) como amiga de Amanda, dos Jason’s e de Daniela, dependendo do mundo que se abre.

Em termos de roteiro, mesmo com a gordura no meio da temporada, a história é bastante intrigante para manter o espectador preso à série, além de conter o questionamento filosófico-existencialista de como seria a vida de cada pessoa, caso ela tivesse tomado uma decisão crucial diferente em certo ponto da vida.

E se eu não tivesse ido àquela festa em que conheci meu cônjuge? E se eu tivesse aceitado aquela proposta de emprego? E se meu filho não tivesse nascido? E se…?

Foto: Divulgação (como saber qual a melhor decisão a se tomar?)

Ou seja, Matéria Escura brinca com as múltiplas possibilidades da vida e a realidade em que se vive, provocando tais pensamentos no seu público.

Adulta na sua temática – mas leve o suficiente para ser assistida por toda a família – contando com uma boa história e atuações dedicadas, apresenta-se como mais uma ótima pedida da Apple TV+.

Mas, ainda não foi desta vez que a indústria do entretenimento norte-americana conseguiu fazer algo tão impactante como a citada Dark.

Quem sabe na segunda temporada chegue mais perto disso?

Foto: Divulgação (nunca que a frase “a vida é uma caixinha de surpresa” foi tão bem aplicada quanto aqui!)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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