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Críticas

O HOMEM DOS SONHOS – Ou o pesadelo do homem comum | Crítica (tardia) do Neófito

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A certa altura de O Homem dos Sonhos – filme produzido pela ousada A24, estrelado por Nicolas Cage, e disponível no catálogo da Prime Video – o personagem principal – professor Paul Matthews – passa por um daqueles terríveis momentos de “vergonha alheia”, quando, além de não conseguir corresponder às fantasias de uma potencial parceira sexual extremamente excitada, começa a involuntariamente ter problemas de incontrolável flatuência.

Essa cena dá o tom do filme – de baixíssimo orçamento para os padrões hollywoodianos (“meros” 12 milhões de dólares) – cuja premissa interessantíssima – que discute o universo das celebridades instantâneas, o culto ao banal, entre outros desafios contemporâneos – acaba sendo muito mal desenvolvida.

A trama é de grande originalidade: professor de biologia universitário medíocre (os alunos se esforçam para permanecer acordados em suas aulas); profissionalmente frustrado (sempre querendo “terminar” seu livro sequer iniciado); nada atraente fisicamente (a peruca para fazer a careca de Cage é um primor de coisa fake); de baixíssimo capital social (tímido e desarticulado, sempre à espera de ser convidado para os saraus de um “amigo” bem relacionado e rico); classe média-baixa para os padrões norte-americanos; e contando, como mérito, apenas o bom e aparentemente feliz casamento e família constituídos, passa a aparecer, sem mais nem menos ou qualquer explicação, nos sonhos de inúmeras pessoas ao redor do mundo, primeiramente, estático e passivo; depois, eventualmente como objeto de fantasia e, por fim, como agente dos piores pesadelos (uma espécie de Fredie Kruger sem luva de lâmina).

Foto: Divulgação (Fredie Cage ou Nicolas Kruger??)

O resultado é um inesperado sucesso midiático, com agência de publicidade desejando administrar a imagem pública de Matthews; jovens moças sexualmente atraídas por ele; salas de aula subitamente repleta de alunos; dinheiro fácil caindo na conta; reconhecimento público; entrevistas na televisão; cumprimentos nas vias públicas…

A metáfora com os atuais influenciadores digitais é quase explícita (alguém aí se lembrou de Manoel Gomes e sua Caneta Azul?). Pessoas vazias de conteúdo, que postam banalidades de suas vidas (como, por exemplo, dancinhas de Tiktok), às vezes caem no gosto popularviralizam! – e alcançam sucesso e repercussão, com boas consequências financeiras, cuja manutenção passa a ser o principal objetivo.

No filme, a fama instantânea, logicamente, subirá à cabeça do antes esquecível professor e, aos poucos, tudo começa a degringolar: do ambiente profissional à família e casamento, passando por seu círculo social. A raiva que Paul começa a sentir por causa da manipulação e exploração que fazem de sua imagem – apesar do prazer inicial de experimentar a emersão do ostracismo – coincide com a mudança de suas “aparições oníricas”, que passam de um objeto passivo para a de um serial killer do mundo dos sonhos (mas sem que ninguém morra de fato ao acordar).

Lendo assim, a história de O Homem dos Sonhos parece muito bacana – o que de fato, em essência, é – mas a forma como se desenvolve é que torna tudo enfadonho e vazio.

O ainda novato diretor norueguês Kristoffer Borgli, nesta sua terceira produção, opta por uma narrativa elíptica, com cortes abruptos, saltos bruscos de roteiro, edição descuidada, apostas no absurdo, fotografia triste e quase dessaturada, tudo embalado numa produção claramente empobrecida, cujos cenários dos sonhos são meras reproduções dos que existem no “mundo acordado”, sem contar com investimento de fato.

Tudo fica apoiado nas costas da interpretação magnética de Nicolas Cage, que – gordo, careca, barbado – opta por uma atuação intimista, dúbia, com fala quase sempre baixa e autocontida, postura encurvada e cansada, mesmo quando, nos sonhos, surge como elemento erótico ou sádico.

A narrativa muda o tom drasticamente, sem maiores avisos e, de um início que lembrava comédias filosóficas com base no realismo fantástico – como O Feitiço do Tempo – acaba terminando de forma tragidramática, pseudocientífica, remontando ao final de A Rede Social.

Perde-se, assim, uma boa premissa, boas intenções críticas, bom enredo e a ótima atuação de seu protagonista numa obra sem alma, que não faz rir, não assusta, nem faz com que o espectador se envolva e se importe emocionalmente com o personagem principal.

A grande “lição” de O Homem dos Sonhos, no sentido de a vida real, ainda que simples e simplória – consubstanciada no casamento e na carreira modestos e seguros de Paul Matthews – poder ser mais um “sonho bom” do que os “sonhos de grandeza” – é jogada no rosto do espectador sem sutilezas ou quaisquer pretensões estéticas e artísticas mais plasticamente pensadas e elaboradas.

Com o perdão do trocadilho infeliz, não é, definitivamente, uma obra dos sonhos.

Foto: Divulgação (quando não percebemos que a vida real é melhor que o sonho…)


Nota: 2,5 / 5 (regular)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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