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UM TIRA DA PESADA 4: AXEL FOLEY – Olhando pelo retrovisor | Crítica do Neófito

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Pegue um outrora grande astro do cinema, ainda cheio de carisma, mas que, atualmente, anda meio “caído” (Eddie Murphy); junte a isso uma dose da patente crise de criatividade de Hollywood – frente a uma demanda frenética por novos lançamentos – mais uma porção de onda saudosista dos anos de 1980; e misture tudo com o interesse de uma poderosa plataforma de streaming (no caso, a Netflix) em aumentar seu catálogo de opções com uma produção caprichada e temos Um Tira da Pesada 4: Axel Foley!

Esse mais novo lançamento da Netflix põe fim à verdadeira novela de décadas sobre a produção de mais um capítulo das aventuras do detetive mais “porr@ lôka” de Detroit, Axel Foley (personagem imortalizado por Murphy, no longínquo filme de 1984, na sua boa continuação em 1987 e no fraquíssimo longa de 1994, quando a carreira do astro começava a declinar).

Dizem que o próprio Eddie Murphy se sentia obrigado a redimir o personagem depois do irregular terceiro filme da franquia (sendo generoso!). Mas, a própria carreira oscilante do astro, a partir da década de 1990 em diante, tornava difícil que o projeto saísse do papel.

Mas, nada como um dia após o outro! Interessada em diversificar seu vastíssimo menu, a Netflix aceitou bancar a produção para, finalmente, 30 anos após o fiasco de 1994, levar ao público as novas loucuras de Axel Foley na resolução de algum complô criminoso, novamente vividas na cidade de Beverly Hills.

Surge, então, nova oportunidade para Eddie Murphy realavancar sua carreira, por meio de uma continuação tardia, nos moldes do que se tentou com o próprio ator no mediano Um Príncipe em Nova Yorque 2 (2021).

Qual teria sido, então, o resultado desse Um Tira da Pesada 4?

Pode-se dizer que a produção se sai bem. O filme é nostalgia pura, apostando num tipo de ação muito característico dos anos 1980, bem como emulando cenas e contextos dos filmes anteriores da franquia.

É escapismo dos fortes: exagerado, barulhento, bem-humorado, carismático, incoerente, ciente de suas próprias limitações artísticas e nostálgico. Vários atores/personagens dos filmes anteriores dão às caras, são mencionados ou mostrados em fotos, ao longo do filme.

Judge Reinhold volta como o Detetive William Rosewood, bem como John Ashton, na pele de Sargent (agora, como chefe – aposentado e desaposentado – do Departamento de Polícia de Beverly Hills), garantindo o mesmo clima dos filmes oitentistas.

Em termos de novos personagens, somos apresentados à advogada de defesa Jane (Taylour Paige) que, na verdade, é filha de Foley, e bastante ressentida com o pai pelo abandono afetivo de décadas. Também surge o Detetive Bobby Abbott, competentemente vivido por Joseph Gordon-Levitt, bem como o dúbio Capitão Grant, caricatamente interpretado por Kevin Bacon.

Foto: Divulgação (um doce para quem descobrir quem é o vilão da trama!)

O roteiro é de uma simplicidade desconcertante: Jane é convidada a advogar – “pro bono” – para um rapaz muito provavelmente acusado de forma injusta de ter assassinado um policial infiltrado, durante operação de flagrante de drogas.

Lógico que tem muito mais coisa por trás – como carteis violentos, policiais corruptos, tráfico internacional de drogas etc. – e Jane, que estava trabalhando no caso graças à indicação de Rosewood, acaba correndo risco de vida, o que leva Foley a novamente embarcar para a rica Beverly Hills, no intuito de proteger a prole; no processo, resolver a conspiração criminosa e, quem sabe, ainda conseguir se reatar com a filha.

Foto: Divulgação (a falta que faz usar uma das “4 palavrinhas mágicas”)

E tome perseguição, destruição de patrimônio (principalmente carros), tiroteio e as muitas caretas e improvisos de Eddie Murphy, marca registrada tanto do ator, quanto de seu mais famoso personagem.

Tudo lindo, tudo nostálgico, tudo leve e engraçado, mas com vários furos de roteiro, exageros e, claro, o peso da idade para os atores principais. Murphy, com 63 anos, não aparenta, no rosto, a idade que tem, mas, a silhueta mais “rechonchuda”, e a evidente menor vigor físico, são mostras patentes de certa anacronia no modo como o personagem ainda se veste e se comporta.

Tirando uma cena ou outra, na qual a tradicional lábia de Foley ameaçava não mais funcionar para a consecução de seus planos – demandando a intervenção da filha ou de Abbott – tudo parece continuar como era em 1980.

O velho tênis Adidas do personagem está presente, bem como a jaqueta aberta. Mas é um pouco destoante ver um homem maduro continuar se vestindo como um jovem descolado recém-saído da adolescência. O personagem poderia ter evoluído um pouquinho, como é de se esperar de qualquer outro ser humano. Neste sentido, Rosewood e Sargent são apresentados de forma mais coerente, aparentando e falando sobre o peso da idade.

A destruição de patrimônio causada por Axel Foley em Um Tira da Pesada 4, à caça de criminosos, também é algo meio forçado para os padrões atuais. Dezenas de carros são esmigalhados nas perseguições levadas a efeito pelo personagem, o que, em termos reais, seria uma coisa impensável.

Os bandidos continuam precisando – urgente! – fazer curso de tiro! Não acertam um disparo sequer em seus alvos, e ainda se expõem o suficiente para que os mocinhos os acertem, mesmo estando com pistolas contra metralhadoras.

Num determinado momento de Um Tira da Pesada 4, é preciso fechar olhos e ouvidos para os buracos do roteiro e se deixar levar pela aventura escapista pura e simples. E funciona bem para a diversão.

Já como obra cinematográfica, por mais que se queira muito gostar de rever Axel Foley, não há como negar que a execução do filme deixa um ar parecido com o do último Indiana Jones, no qual o envelhecido Harrison Ford mostrava nitidamente a incompatibilidade física do intérprete com as demandas performáticas do personagem.

Não é ser etarista ou idadista, mas, assim como é fato que uma pessoa de 1,5 m, por exemplo, poderia ter bastante dificuldades para se tornar um astro da NBA, do mesmo modo, certos atores – à exceção óbvia do Tom Cruise – dão sinais de sua idade e, por conseguinte, de alguma inadequação para retornarem à pele de alguns dos personagens que interpretaram na juventude, os quais demandavam uma enorme performance física.

Esse foi o caso de Ford no mencionado Indiana Jones e o Chamado do Destino (2023); Keanu Reeves como Ted no terceiro Bill & Ted (Encare a Música), de 2020, e novamente como Neo no execrável Matrix Resurrections, de 2021; ou de Arnold Schwarzenegger e seu T-800, nos últimos dois exemplares de o Exterminador do Futuro (Gênesis, de 2015 e Destino Sombrio, de 2019).

Por mais carisma que os astros acima possuam – e, como Keanu Reeves, ainda estejam perfeitamente habilitados para estrelar filmes de ação extraordinários, como os da franquia John Wick – o desafio de retornar a velhos personagens pode ser grande, principalmente quando o roteiro tenta, a todo custo, desprezar a passagem do tempo para os respectivos, mantendo não apenas a essência desses, mas também a forma.

Se, quando do primeiro Um Tira da Pesada, de 1984 – e conforme mencionado no atual Um Tira da Pesada 4 – o personagem Axel Foley contava com 22 anos e se passaram 40 anos, ele está com 62 anos, mas, em termos não apenas mentais, mas, comportamentais, parece que parou no tempo.

Não é que queiramos ver outro personagem. Mas, como no muito questionado (e subestimado) Star Wars Episódio 8: Os Últimos Jedi (2017), Luke Skywalker, mesmo continuando a ser o herói da primeira trilogia, sentiu a passagem do tempo, questionou-se e amadureceu.

Em Um Tira da Pesada 4, a única coisa que incomoda é essa falta de desenvolvimento do personagem, literalmente o mesmo de 40 anos atrás.

Divertido e saudosista, o filme merece ser visto e curtido, mas, como dito na música de Milton Nascimento, “Nada Será Como Antes”, ao fim das leves duas horas de duração do filme, “resiste, na boca da noite, um gosto de sol”.

Foto: Divulgação (“Ói nóis aqui traveis”!)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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